Carlos Alberto Silva deixou, há dias, o cargo de presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS). A saída da presidência do Hospital de Penafiel foi anunciada ao próprio pela tutela, que comunicou ao gestor que não faria parte do novo conselho de administração da Unidade de Saúde Local do Tâmega e Sousa (ULSTS), que entrou em funções em janeiro deste ano.
Dos sete anos “à frente” do CHTS, Carlos Alberto Silva destaca a “COVID19 que, depois do sobressalto inicial e durante mais de dois anos, se transformou no maior desafio das nossas vidas”, mas também o “número de consultas que passou de cerca de 300.000 para quase 400.000”, por ano, e a “introdução de novas especialidades”, revela o gestor.
Com experiência diversificada em vários sectores de atividade como a auditoria, hospitais, indústria da cortiça, têxtil, equipamentos médicos, correios, telecomunicações, entre outros, Carlos Alberto Silva salienta ainda as novas especialidades “conquistadas” durante o tempo de mandato, como a reumatologia, infeciologia, hematologia, imunoalergologia, oncologia, genética e a medicina do trabalho; o aumento da “formação de jovens (médicos e outros)”, assim como, o “reforço muito significativo de recursos humanos, passando de cerca de 1.800 para aproximadamente 2.800”.
E, posto todos estes “acertos”, Carlos Alberto Silva não esperava a saída da administração do Hospital Padre Américo, em Penafiel. “Foi com surpresa, desilusão e frustração que recebi a notícia da substituição”, revela. Assumindo que a justificação que lhe foi dada para a retirada refere-se com o facto de que “terá sido considerado que o ciclo chegou ao fim”.
Confrontado pelo Terras do Vale do Sousa (TVS) sobre a possibilidade de razões políticas poderem estar na origem da saída, o gestor de 59 anos, afirma: “Não faço a menor ideia, mas quero acreditar que não. Até porque, apesar de nunca ter sido presidente com base em critérios políticos, mas somente com base nas melhores práticas de gestão, sou militante do Partido Socialista, tive a melhor relação com as diversas autarquias de diferentes cores partidárias, e saio numa altura em que o poder da saúde em Portugal está nas mãos do PS”.
Ainda assim, Carlos Alberto Silva assume que não lhe foram explicados os critérios de seleção para uma nova gestão, mas defende que “nem teriam de ser”. Confessa, também que, “ainda não tenho projetos para o futuro. A surpresa dos últimos desenvolvimentos e porque as diversas conversas que tinham decorrido ao longo do tempo com as entidades de decisão nunca indiciaram estas evoluções, fizeram com que nunca tivesse pensado em novos cenários”.
Mas, “antes de fechar a porta”, Carlos Alberto Silva conversou ainda com o TVS sobre os relatos, que têm acontecido nos últimos anos, do funcionamento do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Carlos Alberto Silva defende que “sendo um dos maiores hospitais do país e com um número elevadíssimo de episódios diários das mais diferentes naturezas, na esmagadora maioria desses casos, as coisas correm bem. No caso concreto do CHTS, as conhecidas limitações de recursos, particularmente estruturais, fazem com que o exercício da atividade se faça, muitas vezes, em condições particularmente difíceis. Por exemplo, aponta-se à urgência, com muita frequência, uma situação de caos para situações que nada têm a ver com a urgência, mas somente com a inexistência de camas para internamento dos doentes nas diversas especialidades, pela reduzida dimensão do hospital, que obrigam à acumulação de doentes em condições indesejáveis nos corredores. A sensibilização da tutela para a aprovação dos investimentos necessários certamente contribuirá para atenuar essas situações”, esclarece.


A nova Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa
A nova fase da reforma organizativa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente, o alargamento a todo o território nacional das Unidades Locais de Saúde (ULS), assim como ao Tâmega e Sousa é uma “esperança” para a melhoria das condições de saúde disponíveis à população. Ainda assim, Carlos Alberto Silva adverte: “O novo modelo em ULS significa uma enorme oportunidade de desenvolvimento, não só na melhoria da qualidade de saúde da população, como na alavancagem económica numa das regiões com menor PIB per capita do país. O objetivo terá de ser o da primazia aos cuidados primários, em vez da visão centrada no hospital, para se conseguirem reduzir as idas à urgência hospitalar, promover a saúde e prevenir a doença. A região tem uma cobertura de quase 100% de utentes com médico de família, pelo que, entre outras coisas, se deve apostar forte nas ações de rastreios, cuidados com alimentação, proximidade aos lares de idosos, promoção de modos de vida saudável, combate ao consumo do tabaco e do álcool. Com esta mudança de paradigma, de reforço de recursos e financiamento, de melhoria e alargamento de instalações, associados aos projetos de ligação à comunidade, creio poder assumir-se o desiderato de tornar esta região como exemplo nacional e, no espaço de uma década, ter um dos melhores níveis de saúde do país”.
Contudo, o até agora presidente do conselho de administração do CHTS, já referiu, em diversos momentos, o ajuste de financiamento quando comparado com a ULS de Matosinhos, que foi a primeira ULS do país. “A comparação que tenho feito com a ULS de Matosinhos prende-se somente com o facto de aquela ULS tem estado a ser recorrentemente apontada como modelo de funcionamento pela generalidade das pessoas a nível nacional. O CHTS tinha, em 2016 (quando iniciei funções), cerca de 74 milhões de euros de financiamento anual, que foi crescendo, fruto dos reforços de atividade e aumento de profissionais que fomos conseguindo, até cerca de 151 milhões em 2023. Na nova realidade de ULSTS, há que somar a este valor os custos associados com a inclusão dos ACES (cuidados primários), tendo sido considerado um valor de financiamento global para 2024 de cerca de 390 milhões. Atendendo a que a ULSTS para a ter de tratar cerca de 475.000 pessoas, tal significa um valor de capitação (valor por pessoa a cargo da ULS) pouco superior a 800€. A ULS de Matosinhos, com cerca de 180.000 pessoas a cargo, tem um financiamento anual superior a 200 milhões, ou seja, mais de 1.000€ per capita. Isto significa que, mesmo sem considerar fatores de ajustamento pelo risco dos doentes tratados, nem de dispersão geográfica de cada ULS, há uma falta anual no financiamento da ULSTS superior a 100 milhões de euros, o que, obviamente, faz uma enorme diferença, porque todos imaginam o que se conseguiria fazer com mais 100 milhões todos os anos para a saúde da região”, explica Carlos Alberto Silva.
O ex-gestor do Hospital Padre Américo acredita, por isso, que, no caso da nova ULS do Tâmega e Sousa, a “questão não será somente de recursos (embora isso seja muito importante), mas mais na mudança de paradigma, porque a colocação dos cuidados primários na linha da frente das prioridades de atuação exige uma alteração muito significativa de atitudes dos profissionais e dos dirigentes, o que, em si mesmo, encerra um enorme desafio. Esta questão, que não exige alterações legislativas nem determinações superiores, vai ser claramente aquela que vai mostrar, a nível nacional (não somente nesta região), onde o modelo vai ter sucesso na sua implementação”, esclarece.
O Hospital Padre Américo serve, atualmente, cerca de 500.000 pessoas, em 12 concelhos de quatro distritos do país.


Ex-gestor e Antonino Sousa “de mãos dadas”
Para Carlos Alberto Silva, não há dúvidas do “contributo indiscutível para a coesão territorial, sendo disso prova a demonstração pública de apreço feita por vários autarcas e que atesta a bondade das opções tomadas”. Um deles, Antonino Sousa, presidente da Câmara Municipal de Penafiel, que, no passado dia 23 de janeiro, reuniu, juntamente com a vereadora da saúde, Daniela Oliveira, com o Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo.
A reunião, que se realizou a pedido do autarca penafidelense, teve como tema central os problemas que são de conhecimento público relacionados com o funcionamento do ex-Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e, em especial, com a unidade do Hospital Padre Américo, em Penafiel.
O presidente, Antonino de Sousa, na reunião, deu nota da total disponibilidade para ajudar a encontrar soluções que promovam ganhos em saúde junto das pessoas, nomeadamente, no que diz respeito a uma eventual ampliação das instalações do Hospital Padre Américo. Fernando Araújo, Diretor Executivo do SNS, mostrou-se recetivo e solidário com as preocupações do município, bem como disponível para desenvolver um trabalho em conjunto no sentido de encontrar soluções e caminhos possíveis para resolver o problema.
No final da reunião, Antonino de Sousa, declarou: “Temos vindo a pressionar os responsáveis do nosso SNS para que olhem para o Hospital Padre Américo com outro nível de preocupação. Não é aceitável que uma unidade de saúde como a de Penafiel não consiga oferecer melhores cuidados, em especial no acesso ao serviço de urgência que, como sabemos, não tem conseguido dar a devida resposta. Estou totalmente disponível para colaborar no que for necessário para que estes problemas sejam minimizados e possamos ter um hospital de referência com a devida capacidade de resposta. Desejo sinceramente que esta reunião tenha efetivo seguimento e que possamos ter resultados palpáveis.”
Carlos Alberto Silva concorda com a ideia partilhada pelo presidente da Câmara Municipal de Penafiel. “Parece-me absolutamente necessário que os poderes centrais se deixem sensibilizar, de uma vez por todas, para a premência do alargamento das instalações e da aprovação dos planos de investimento nesse sentido. É aliás um dos sabores amargos que levo na boca, por não ter tido a capacidade de sensibilizar superiormente para essa necessidade, quando todos conhecem bem a realidade da região e sabem das carências com que nos debatemos permanentemente. Há ainda um longo caminho a percorrer e o aumento do hospital parece-me inevitável e urgente”, conclui.


Que mensagem deixa para os profissionais da instituição?
“Uma mensagem de agradecimento por toda a colaboração prestada ao longo destes sete anos e de continuado empenho na participação deste fantástico projeto de bem servir tão vasta população. E que se adaptem a estes novos tempos, contribuindo para o tal desígnio de elevação da qualidade de vida dos concidadãos e, ao mesmo tempo, da sua própria qualidade de vida e satisfação no desempenho profissional”.