Costuma-se dizer que é desde pequenino que se torce o pepino. Desde muito cedo, as crianças têm sonhos e aspiram a profissões que gostariam de seguir no futuro. Se perguntarmos a uma criança da escola primária qual profissão gostaria de seguir, é muito provável que a maioria responda que quer ser jogador de futebol e, por isso, muitos pais colocam os filhos a jogar à bola nos escalões de formação de um clube. Da mesma maneira, uma criança que sonha em ser bombeiro pode começar a vivenciar esse desejo desde os primeiros anos de vida, nas escolinhas de formação. Se fizermos uma analogia entre o futebol e os bombeiros percebemos que, em ambos os casos, é possível iniciar a trajetória profissional desde a infância.
No quartel dos Bombeiros Voluntários de Lousada (BVL) mora, desde 2009, uma Escola de Infantes e Cadetes e para ingressar na mesma é necessário ter, pelo menos, seis anos de idade.
O comandante dos BVL, José Carlos Aires, explica que “a escola é aberta para crianças entre os 6 e os 13 anos, na categoria de infantes, e para jovens entre os 14 e os 16 anos, na categoria de cadetes”, e refere que, por ano, costumam ter cerca de 50 participantes. Após concluírem a formação na escola de infantes e cadetes, os bombeiros iniciam o seu percurso como estagiários, onde adquirem a experiência necessária para executar a função. Ao longo do tempo, à medida que demonstram mérito, competência e responsabilidade, os bombeiros vão subindo na hierarquia.
A procura para entrar na Escola de Infantes e Cadetes dos BVL tem sido constante, graças a ações de sensibilização promovidas pela corporação lousadense.
“Realizamos palestras nas escolas e recebemos também jovens que chegam por iniciativa própria, movidos pelo sonho de servir a comunidade”, frisou o comandante. Além disso, os Bombeiros Voluntários de Lousada oferecem a roupa aos instruendos, o que, monetariamente, é benéfico para os encarregados de educação.
A ideia de criar a Escola de Infantes e Cadetes nasceu da ligação familiar à atividade de bombeiro.
“Numa primeira fase, foi aberta a escola apenas para os filhos de bombeiros, pela ligação aos pais e para perceber qual a motivação de jovens de tenra idade em relação à atividade de bombeiro”, afirmou José Carlos Aires. Nos dias de hoje, o objetivo passa por formar futuros bombeiros voluntários.
“Queremos cativar os jovens para o voluntariado, formando-os desde cedo, tentando fazer com que cheguem a bombeiros”, referiu o líder.
Posto isto, a aposta na “prata da casa” permite dar continuidade ao efetivo do Corpo de Bombeiros, fortalecendo quer em termos de quantidade quer de qualidade. Este processo de formação contribui para a renovação do corpo ativo dos Bombeiros Voluntários de Lousada, uma vez que muitos dos bombeiros mais experientes atingem a idade da reforma e têm de ser substituídos pelos mais jovens.
A formação oferecida pelos BVL combina teoria e prática, preparando os jovens para os desafios reais da profissão.
“Ao nível teórico, aprendem a organização dos Corpos de Bombeiros Voluntários, primeiros socorros. Já no plano prático, aprendem o Suporte Básico de Vida, boas práticas em acidentes domésticos, abrir faixas de contenção em contexto simulado para incêndios rurais, noções básicas de desencarceramento, uso de extintores e ordem unida”, enumerou o comandante da instituição.
Questionado pelo Terras Vale do Sousa (TVS) acerca do que diria aos jovens que desejam ingressar na Escola de Infantes e Cadetes, o comandante José Carlos Aires considera que “é uma forma de ser útil à comunidade, aprendendo matérias que serão úteis para a sua vida particular, bem como à sociedade em que está inserido”. Além disso, destaca a importância de fortalecer os laços de união entre as pessoas.
“É importante para criar camaradagem, espírito de equipa e disciplina”, acrescentou.
O jornal TVS entrou em contacto com um aluno que integrou a Escola de Infantes e Cadetes dos BVL, nos primeiros anos, para perceber como foi a sua experiência. Carlos Monteiro, de 24 anos, é natural de Nespereira, Lousada, e entrou para os bombeiros em 2009, aos nove anos de idade. Começou como infante, depois passou para cadete, até chegar a estagiário, onde interrompeu a meio por motivos académicos. Carlos foi bombeiro durante nove anos.
“Estive durante nove anos nos Bombeiros Voluntários de Lousada. A escola foi criada em 2009 e eu fui da primeira geração de infantes e cadetes. Na altura entrei porque o meu avô era bombeiro e era costume falarmos sobre isso”, disse Carlos Monteiro.
“Aprendi muito, ao longo dos anos, com os instrutores. Aos sábados à tarde tinha a instrução e fazia inúmeras atividades. Confesso que era aquilo que mais gostava quando lá estava”, acrescentou.
Carlos Monteiro destaca, ainda, o companheirismo que é criado entre os colegas e considera que o mais gratificante é a promoção de escalão.
“O tempo que passei nos Bombeiros Voluntários de Lousada foi de qualidade. Fiz bons amigos e, hoje em dia, mantenho contacto com alguns deles. O facto de passar de infante para cadete e depois para estagiário, e assim sucessivamente, é o mais gratificante, apesar da responsabilidade ser maior”, contou.
“Saí com 18 anos de idade, porque na altura estava a estudar longe e senti algumas dificuldades em conciliar tudo”, explicou.
O jovem lousadense deixa, ainda, uma palavra para as futuras gerações.
“Espero que aproveitem tudo aquilo que os Bombeiros têm para vos oferecer. Se aproveitarem tenho a certeza que vão ser melhores pessoas no futuro e vão querer sempre ajudar o próximo”, concluiu.
O jornal TVS também entrou em contacto com um aluno da Escola de Infantes e Cadetes. Nuno Freire, de 16 anos, é natural de Aveleda, Lousada, e entrou em 2014, com seis anos de idade. O jovem começou por dizer que entrou na escola pelo facto do seu avô ser bombeiro do Quadro de Honra e no futuro pretende “honrar o seu legado”. O jovem acrescenta: “Tenho orgulho em vestir esta farda e quero continuar a vesti-la por mais anos”.
Para Nuno Freire a experiência na Escola de Infantes e Cadetes dos BVL tem sido uma oportunidade de crescimento a nível pessoal e profissional.
“Conheço pessoas novas e aprendo coisas novas a cada vez que tenho uma instrução. Se algum dia ocorrer algo de mal no dia a dia, já sei como agir em determinadas situações”, afirmou.
De acordo com Nuno Freire, ser bombeiro também implica desafios e aventuras que vão além da formação. “Vou a concursos e provas fora da localidade, como o Bombeirinho de Ferro e o Bombeiro de Ouro. Além disso, gosto dos convívios que são realizados ao longo do ano”, disse.
Como em qualquer caminhada, existem momentos difíceis, como diz o jovem lousadense.
“A pior fase que os bombeiros atravessaram foi na fase da pandemia, onde tivemos de parar, pois não havia instruções”, recordou. No entanto, Nuno Freire guarda boas memórias desde os tempos em que entrou na escol.
“A minha melhor fase foi quando entrei, quando era infante, porque era tudo novo e, atualmente, estou como cadete, mas para o ano a responsabilidade será maior, pois vou para estagiário”, concluiu.
Para além da formação técnica e prática, a Escola de Infantes e Cadetes dos Bombeiros Voluntários de Lousada é, sem dúvida, um exemplo de como formar cidadãos prontos para ajudar a população. Com este trabalho, os BVL asseguram o futuro da corporação, ao formar os jovens desde muito cedo para exercer a profissão.