22 de maio de 2023 marcou o regresso de buscas relacionadas com o desaparecimento de Madeleine McCann. A criança inglesa, na altura com 3 anos, que desapareceu de um aldeamento turístico na Praia da Luz, no concelho de Lagos, no Algarve, onde estava a passar férias com os pais e os irmãos. 16 anos depois do desaparecimento, as buscas foram requeridas pela polícia germânica por suspeitar do envolvimento de um cidadão alemão no desaparecimento da criança, e que alegadamente frequentava aquele local na barragem do Arade, no concelho de Silves, no distrito de Faro.
As buscas, que duraram 3 dias, e cujo material recolhido vai ser entregue às autoridades alemãs fizeram recordar outros casos de desaparecimentos, no nosso país, nomeadamente, o caso Rui Pedro. O menino, na data com 11 anos, que desapareceu perto de casa, em Lousada, no dia 4 de março de 1998.
O TVS falou com Ricardo Sá Fernandes, advogado dos pais de Rui Pedro, sobre as semelhanças dos casos e o que ficou por fazer no caso da criança de Lousada.
“O corpo da Maddie não apareceu e, nessa base, eu acho que é obrigação dos polícias prosseguirem todas as pistas de investigação que sejam minimamente credíveis. Oxalá se venha a saber o que aconteceu à Maddie, é aquilo que eu espero. Contudo, a situação a Maddie não me faz esquecer outros casos, como o do Rui Pedro.
Eu, há muito tempo, que sustento que, na serra onde ele foi visto pela última vez, em Lousada, devia fazer-se um levantamento da mesma natureza deste. Acho que se devia fazer uma batida na serra, em Lousada, para despistarmos a hipótese de o corpo do Rui Pedro poder estar aí. É que foi o último sítio onde ele foi visto”.
O advogado dos pais de Rui Pedro considera que os casos “são semelhantes”, embora com tratamento diferente.
“Podemos comparar os 2 casos e a conclusão que temos é que, para o caso Maddie, não têm faltado meios fundos, para o caso do Rui Pedro não há fundos. Essa é a grande diferença. São 2 casos dramáticos. 2 crianças que desapareceram. No caso do Rui Pedro, ainda conseguimos obter a condenação da última pessoa que esteve com ele, mas é uma vitória que me sabe a pouco porque o que nós gostaríamos era de saber exatamente o que lhe aconteceu e isso ainda não sabemos. O Rui Pedro continua por aparecer, vivou ou morto, tal como a Maddie. A situação de sofrimento dos pais é igual. Os pais da Maddie devem estar em profundo sofrimento como os pais do Rui Pedro, a única diferença é que os pais da menina inglesa podem ainda contar com capacidade para investigar, que no caso do Rui Pedro parece que já se perdeu”.
Questionado sobre o que falta para se fazer novas buscas no que respeita ao caso Rui Pedro, Ricardo Sá Fernandes não tem dúvidas. “Falta vontade, vontade judiciária e, eventualmente, faltarão meios. Meios que houve agora. Eu não desisti ainda de saber o que aconteceu com Rui Pedro e os pais muito menos. Do ponto de vista criminal, o caso está fechado, mas enquanto não houver um corpo e se puder continuar a investigar, isso não pára a investigação. Até porque pode haver situações, cuja responsabilidade criminal, ainda não tenha terminado”.
O advogado da família do menino de Lousada afirma que todo o retomar de buscas relativas a Madeleine McCann não é “compreendido pelos pais Filomena Teixeira e Manuel Mendonça”.
“É motivo de incompreensão para os pais. Eles gostariam que houvesse mais empenho na descoberta de eventuais indícios que os pudessem levar ao Rui Pedro. E eu acho que o segredo está naquela serra. E acho que uma investigação intensa sobre aquele local, onde ele foi visto pela última vez, é uma zona suscetível de nos levar a obter respostas sobre este caso. Não tenho a certeza disso, como é evidente, mas quem não tenta não consegue”.
Quanto às buscas realizadas durante 3 dias na barragem do Arade, distrito de Faro, Ricardo Sá Fernandes esclarece que “parte das buscas é suportada pelo Estado Português e outra parte suportada pelas autoridades britânicas”.
O advogado afirma que “a esperança tem vindo a diminuir, mas ainda não se apagou. Ainda tenho esperança”.
Confrontado com a questão “E se o Rui Pedro fosse inglês?”, Ricardo Sá Fernandes é categórico. “Era provável que houvesse mais meios. No caso da Maddie mobilizaram-se muitos fundos e isso teve que ver com a importância que tem a origem da menina e os meios financeiros que foram capazes de se libertar. Eu não tenho nada contra isto que esteve a ser feito, neste caso. Ficaria feliz se isto desse alguma coisa. Até para ganharmos consciência que não devemos desistir de uma investigação desta natureza”.
Filme “Sombra” apresentado no Auditório Municipal de Lousada
Na passada sexta-feira, 26 de maio, foi apresentado, no Auditório Municipal de Lousada, o filme “Sombra”, de Bruno Gascon. O evento teve como objetivo assinalar o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, que se comemora a 25 de maio, com a exibição do filme que conta a história de uma mãe, Isabel, que luta por encontrar o filho, Pedro, de 11 anos, desaparecido em 1998, assemelhando-se, assim ao desaparecimento de Rui Pedro e à persistência da mãe, Filomena Teixeira.
Na estreia, estiveram presentes os familiares do Rui Pedro, nomeadamente os pais, Filomena Teixeira e Manuel Mendonça, e a Presidente da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas, Dra. Patrícia Cipriano, assim como o Presidente da Câmara Municipal de Lousada, Pedro Machado.
Com estreia mundial no Festival de Cinema de Barcelona, o filme conquistou os prémios de “melhor obra” e de “melhor filme pelos seus valores históricos”.