Quando pensamos se os mais velhos são um peso para a sociedade, podemos perceber que esta é uma questão que provoca uma reflexão sobre a maneira como percebemos e tratamos as pessoas idosas nas sociedades contemporâneas. Infelizmente, em algumas culturas, há um estigma que associa a velhice à ideia de dependência, inatividade e, por conseguinte, de um “peso” económico, social e até emocional. Contudo, essa visão é redutora e não reflete a complexidade da experiência humana e o valor que os mais velhos representam para a sociedade.
Primeiramente, é importante destacar que os idosos são uma parte vital da história e da cultura de qualquer sociedade. Eles são os portadores de experiências de vida, sabedoria e tradições que muitas vezes são transmitidas para as gerações mais jovens. A ideia de que os mais velhos são um fardo pode desconsiderar o papel fundamental que desempenham na formação de valores, na educação de filhos e netos, além de sua contribuição no campo do trabalho, da arte e da ciência. Muitos idosos continuam ativos em várias áreas da sociedade, como voluntários, conselheiros e até inovadores, desafiando a noção de que sua contribuição se limita ao passado.
Além disso, a ideia de “peso” também se relaciona com a questão económica. A reforma e os custos de saúde associados à velhice são frequentemente apontados como fontes de preocupação, mas isso ignora o facto de que os mais velhos, muitas vezes, continuam a contribuir de maneiras indiretas e até diretas para a economia. Em muitos países, o envelhecimento da população é considerado um desafio, mas, ao mesmo tempo, a longevidade oferece novas oportunidades de mercado, como o setor de saúde e bem-estar.
Socialmente, a visão de que os mais velhos são um peso muitas vezes leva à exclusão e marginalização dessa faixa etária. No entanto, a integração dos idosos na sociedade pode trazer benefícios significativos, como maior coesão social e fortalecimento da rede de apoio familiar. Em muitas culturas, os avós desempenham um papel essencial na educação dos netos e no cuidado dos filhos, proporcionando uma base sólida para o desenvolvimento das novas gerações.
Em vez de ver os mais velhos como um fardo, é mais apropriado considerá-los como uma parte ativa e valiosa da sociedade, cujas contribuições não devem ser subestimadas. O que é necessário é um esforço conjunto para garantir que as políticas públicas, como reforma, saúde e acessibilidade, sejam adequadas para proporcionar uma velhice digna e ativa. A sociedade, por sua vez, precisa de evoluir para valorizar e integrar os mais velhos de forma mais plena, reconhecendo suas experiências e garantindo sua participação ativa em todas as esferas da vida.
De modo a perceber como é que a população em geral vê os idosos em Portugal, o Terras do Vale do Sousa (TVS) abordou Joaquim Leal e Lívia Fonseca, ambos funcionários num lar de idosos que convivem diariamente com pessoas mais velhas e, consequentemente, com as dificuldades e desafio que estas enfrentam, mas também com as coisas boas e a sabedoria que têm a oferecer à sociedade.
Joaquim Leal
“Eu acho que, infelizmente, muitas vezes, os mais velhos realmente se tornam um fardo para a sociedade. O aumento da longevidade tem trazido muitas vantagens, sem dúvida, mas também apresenta desafios que são difíceis de ignorar. Cada vez mais, vemos pessoas idosas dependentes de cuidados médicos, sem condições de sustento, e isso acaba sobrecarregando o sistema de saúde e o orçamento público. Além disso, muitas delas já não estão tão ativas no mercado de trabalho e, portanto, não contribuem diretamente para a economia, o que pode ser um peso para os mais jovens que precisam sustentar esse sistema.
Embora eu reconheça que muitos idosos têm muito a oferecer em termos de sabedoria e experiências de vida, é preciso ser realista: os custos com a reforma, saúde e cuidados sociais tornam-se insustentáveis. A sociedade precisa de encontrar maneiras mais eficazes de equilibrar essa realidade, talvez até incentivando os idosos a continuarem trabalhando por mais tempo ou a desenvolverem novas formas de contribuição.”
Lívia Fonseca
Confrontada com a opinião do colega, Lívia Fonseca afirma: “Eu discordo totalmente dessa visão de que os mais velhos são um peso para a sociedade. Na verdade, acho que essa é uma ideia que subestima o valor dos idosos e o que eles realmente representam. O envelhecimento da população não é um problema, é uma oportunidade. Os mais velhos têm uma bagagem de experiências, conhecimentos e habilidades que podem ser valiosas para as gerações mais jovens. Muitos idosos continuam ativos, não só no mercado de trabalho, mas também como voluntários, conselheiros e educadores. Eles fazem parte de uma rede de apoio essencial, especialmente nas famílias, onde ajudam a cuidar de netos e a transmitir valores fundamentais.
Além disso, a ideia de que os idosos são um fardo econômico é muito simplista. Sim, existem custos associados à saúde e reforma, mas isso não significa que eles não possam continuar contribuindo de outras maneiras. A economia está mudando e, com isso, surgem novos mercados voltados para o bem-estar e as necessidades da população idosa, criando mais oportunidades de crescimento. O que precisamos é valorizar mais os idosos e garantir que tenham as condições para envelhecer com dignidade, sem ser marginalizados ou considerados como um peso”.
Mas o que pensa a sociedade em geral?
A opinião da sociedade quando questionada se os mais velhos são um peso para a sociedade é dividida e reflete as tensões e desafios contemporâneos. Por um lado, uma parte da população, especialmente aqueles que enfrentam diretamente as questões económicas e sociais relacionadas ao envelhecimento, vê os idosos como uma carga para o sistema. Aumento das despesas e necessidade de cuidados especiais para uma população que vive cada vez mais, são questões que geram preocupação. Para essas pessoas, os idosos representam um fardo para o sistema público de saúde e previdência, já que a dependência das pessoas mais velhas em relação a esses serviços tende a aumentar com a longevidade.
Por outro lado, muitos reconhecem o valor dos idosos e veem a questão sob uma perspetiva mais positiva. A sociedade, em geral, é também grata pela contribuição dos mais velhos, tanto no aspeto emocional quanto no social. A experiência e a sabedoria que os idosos compartilham com as gerações mais jovens são muitas vezes vistas como um patrimônio importante para a continuidade da cultura e da educação. Além disso, com o crescimento do mercado de produtos e serviços direcionados aos idosos, como saúde preventiva, turismo e novas tecnologias de assistência, muitos argumentam que a população mais velha pode, sim, contribuir para a economia de outras formas, além do trabalho tradicional.
No entanto, há um consenso crescente de que a sociedade precisa se adaptar para lidar com as mudanças demográficas. Isso inclui repensar o envelhecimento, criando condições para que os idosos continuem ativos, produtivos e integrados, em vez de marginalizados ou estigmatizados. A questão central, portanto, não é necessariamente se os mais velhos são um peso, mas como podemos criar uma sociedade mais inclusiva e sustentável, que valorize a contribuição dos idosos e enfrente os desafios económicos e sociais relacionados ao seu envelhecimento de maneira eficaz.
Em resumo, a opinião da sociedade é multifacetada: alguns veem os idosos como um desafio, enquanto outros os reconhecem como uma parte fundamental da estrutura social e cultural. O debate continua em aberto, mas é claro que a mudança de perspetiva, para um modelo mais inclusivo e respeitoso, é crucial para garantir que a velhice seja vivida com dignidade e contribuição para o bem-estar coletivo.