18 outubro 2024, 09:44
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    Como as redes sociais estão a impactar a saúde mental dos jovens?

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    Nos últimos anos, as redes sociais tornaram-se uma presença omnipresente na vida dos jovens, moldando não apenas as suas interações, mas também as suas perceções de si mesmos e do mundo ao seu redor. Com o aumento do uso dessas plataformas, cresce também a preocupação com os impactos negativos que estas possam ter na saúde mental dos adolescentes e jovens adultos. Um estudo realizado pela Dove no ano de 2023 lançou uma luz alarmante sobre a extensão desses efeitos em Portugal e noutros países, revelando uma realidade que necessita de atenção urgente.

    O estudo, que inquiriu 1200 jovens e pais em Portugal, bem como participantes de outros países como Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Brasil, Estados Unidos da América e Canadá, revelou que 86% dos jovens portugueses admitem estar viciados no uso de redes sociais, um valor preocupante e superior à média europeia de 78%. Além disso, 90% dos jovens portugueses começaram a utilizar as redes sociais com uma idade igual ou inferior aos 13 anos, uma idade em que a identidade e a autoestima ainda estão em formação, tornando-os particularmente vulneráveis aos impactos dessas plataformas.

    Este levantamento também destaca que 80% dos jovens preferem comunicar através das redes sociais em vez de interações presenciais, considerando-as uma extensão de si mesmos. Esta dependência digital tem implicações profundas, com muitos jovens a revelar que ficam aborrecidos quando não têm acesso às suas plataformas. Dois em cada cinco jovens reconhecem que as redes sociais têm um impacto negativo na sua saúde mental, em grande parte devido aos conteúdos tóxicos a que são expostos, como incentivos à automutilação e a promoção de padrões de beleza irreais.

    A pandemia de COVID-19 exacerbou a dependência dos jovens pelas redes sociais, uma tendência que já estava em crescimento. O Jornal Terras do Vale do Sousa (TVS) entrou em contacto com a psicóloga clínica Sandra Silva, que observou que o confinamento forçado empurrou muitos adolescentes para as redes sociais como uma forma de fuga e interação. “Durante a pandemia, os adolescentes ficaram confinados em casa e passaram a utilizar mais as redes sociais. Este isolamento físico, combinado com o aumento do tempo passado online, pode ter agravado certos problemas de saúde mental”, explica a profissional.

    A comparação social, facilitada pelo constante fluxo de imagens idealizadas nas redes sociais, é um dos maiores desafios para a autoestima dos jovens. O estudo da Dove revelou que três em cada quatro jovens foram expostos a conteúdos que mostravam “corpos perfeitos e irrealistas”, o que os faz desejar uma mudança na sua aparência. “Os jovens muitas vezes querem ser como as pessoas que veem nas redes sociais, que apresentam uma imagem perfeita e irreal, frequentemente modificada por filtros e Photoshop“, alerta Sandra Silva.

    Além disso, 70% dos jovens inquiridos admitiram ter sido incentivados a usar filtros excessivos nas suas fotos e vídeos, enquanto 45% observaram conteúdos que promovem distúrbios alimentares. Essas pressões podem levar à insatisfação com o próprio corpo e, em casos extremos, ao desenvolvimento de transtornos alimentares ou outras condições relacionadas com o deterioramento da saúde mental.

    O estudo da Dove destacou ainda que dois em cada cinco jovens consideram que as redes sociais têm um impacto negativo na sua saúde mental, sendo a ansiedade e a depressão os sintomas mais comuns. A comparação constante com os padrões irreais promovidos online leva muitos jovens a sentirem-se, de certa forma, inadequados, o que gera frustração e agrava problemas psicológicos presentes a priori. Sandra Silva reforça que “a comparação constante, seja na vida real ou no digital, pode gerar frustração, ansiedade e, em casos extremos, depressão”.

    Para combater estes impactos negativos, Sandra Silva recomenda uma “desintoxicação digital” e um controlo mais rigoroso do tempo passado online. A psicóloga sugere que os pais imponham limites claros ao uso das redes sociais e incentivem os jovens a participar de atividades offline como a leitura analógica, o exercício físico e a socialização sem a presença de dispositivos eletrónicos. “Uma das estratégias que recomendo é o controlo parental, criando horários para a utilização das redes sociais, e a terapia, para que os jovens compreendam que o que veem online não é a vida real”, propõe.

    O Papel dos Influenciadores e das Escolas

    Os influenciadores digitais exercem um poder significativo sobre os jovens, moldando comportamentos e opiniões. No entanto, Sandra Silva expressa ceticismo quanto ao papel destes influenciadores na promoção da saúde mental dos seus seguidores. “É um facto que eles têm muita influência sobre os adolescentes”, reconhece a psicóloga. Entretanto, ela ressalta a contradição de esperar que influenciadores digitais, cuja presença está fortemente ligada ao mundo digital e à criação de conteúdos muitas vezes voltados para a manutenção da interação online, promovam uma redução no uso das redes sociais. “Utilizar a sua influência para promover a saúde mental seria contraditório, já que a própria premissa das redes sociais é criar vício”, explica.

    Por outro lado, as escolas, os pais e os educadores, podem desempenhar um papel crucial na educação dos jovens sobre o uso consciente das redes sociais. Sandra Silva sugere que as escolas promovam atividades tradicionais, que estimulem a interação pessoal e a desconexão do mundo digital. “Promover atividades reais, como aquelas que fazíamos na nossa infância, pode ajudar a retirar os jovens do digital”, afirma. A psicóloga exemplifica com a iniciativa de uma escola que proibiu o uso de telemóveis, resultando no retorno de brincadeiras tradicionais, como saltar à corda, destacando a importância de tais práticas no desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes.

    Responsabilidade das Plataformas e o Papel dos Pais

    O estudo da Dove também evidencia a crescente preocupação dos pais com a exposição dos seus filhos a conteúdos potencialmente prejudiciais nas redes sociais. Muitos pais sentem-se impotentes frente à influência que essas plataformas têm sobre a autoestima e o bem-estar dos seus filhos. Cerca de 48% dos pais admitem sentir-se culpados por não conseguirem proteger suficientemente os seus filhos do que veem online, e 52% acreditam que as redes sociais têm mais poder para moldar a autoestima dos jovens do que eles mesmos enquanto pais.

    A maioria (85%) concorda que as redes sociais precisam de mudar para oferecer uma experiência mais positiva e segura para os adolescentes, e que é necessária legislação para responsabilizar as plataformas pelos danos causados à saúde mental dos jovens.

    Sandra Silva também é crítica em relação ao papel das plataformas de redes sociais na proteção da saúde mental dos seus usuários. Ela argumenta que estas empresas dificilmente tomariam medidas eficazes para mitigar os impactos negativos, dado que o seu modelo de negócio depende da interação contínua dos usuários. “A premissa das plataformas digitais é mesmo criar o vício. E, portanto, acho que nunca iriam fazer nada [para proteger a saúde mental dos usuários] porque não é o propósito deles”.

    Desafios Futuros

    O futuro da saúde mental dos jovens num mundo cada vez mais digital apresenta desafios significativos. Sandra Silva alerta para a perda de contacto cara-a-cara e para as consequências psicológicas de viver uma vida através das redes sociais. “Estamos na era dos emojis, mas as emoções reais ficam comprometidas. Isto pode trazer sérias consequências a nível psicológico”, conclui.

    A relação entre as redes sociais e a saúde mental dos jovens é uma questão que exige uma abordagem multifacetada. Com o aumento da dependência digital e os efeitos nocivos que acompanham essa realidade, é fundamental adotar estratégias de autocuidado e promover a educação sobre o uso consciente das plataformas. A criação de ambientes online mais seguros e saudáveis, aliada à intervenção dos pais e educadores, será crucial para proteger a saúde mental das próximas gerações.

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