No futebol existem muitos jogadores que não jogam nos seus países de origem e no concelho de Lousada há casos em que isso acontece. Carlos Ferreira é natural de Silvares, tem 25 anos, fez o 12º ano em Turismo, na Escola Profissional de Comércio Externo no Porto e, atualmente, é um dos avançados do Skála, da segunda divisão das Ilhas Faroé.
O sonho de jogar futebol surgiu através da família, pois todos “tinham algo ligado ao futebol”. Carlos começou por jogar na escola e na rua com os amigos e foi aí que começou por ganhar o sentimento e o gosto por jogar futebol, afirma que “foi um sonho que se foi construindo com o passar dos anos”. O atleta lousadense começou a praticar futebol desde os 5 anos, na Associação Desportiva de Lousada e é “um dos melhores marcadores de sempre da formação”. Carlos chegou à equipa sénior do Lousada na temporada 2017/2018, onde conseguiu a subida à Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto com o emblema lousadense, e passou por clubes como o Marco 09, Rebordosa, Barrosas, Mirandela e Cinfães. Em 2022, rumou à Finlândia para representar o Kajaanin Haaka, naquela que foi a sua “primeira experiência no estrangeiro”.
O clube que Carlos Ferreira afirmou ter maior produtividade foi o Barrosas, na altura orientado por Tonanha. A boa prestação no emblema do concelho de Felgueiras deu-lhe o passaporte para o Campeonato de Portugal, onde não teve muitas oportunidades no Mirandela, mas conseguiu fazer uma boa reta final de temporada no Cinfães. Um dos melhores momentos da carreira do atleta lousadense aconteceu no clube transmontano, no dérbi frente ao Macedo, a contar para a primeira jornada da série B do Campeonato de Portugal, quando aos 90+4 o avançado “tirou um coelho da cartola” e marcou através de um pontapé de bicicleta o golo da vitória da turma alvinegra.
Em julho de 2022, o campeonato em Portugal terminou e através do seu agente, que conhecia o treinador do Haaka da Finlândia, Luís Figueiredo, surgiu a oportunidade de ir para o estrangeiro, na qual o atleta foi em agosto do mesmo ano. Muitas vezes, para se ir atrás de algum sonho é preciso abdicar de certas coisas e Carlos Ferreira é um exemplo disso. “A primeira vez que saio de Portugal para ir para o estrangeiro, recebo a proposta e o bilhete de avião era para ir três dias depois. Fiz logo as malas, os meus pais chegaram a casa e eu disse-lhes que ia arrancar para a Finlândia, mas eles ao início não se acreditaram. Depois, no dia anterior a viagem, começaram a ver que era verdade e apoiaram-me, pois sabiam que esse era o meu sonho. O mais difícil são as saudades e a questão de falar com eles à distância”, contou.
Nos países nórdicos o campeonato começa em março e termina em outubro. Carlos chegou a meio da época ao clube finlandês e em 10 jogos apontou sete golos. Em dezembro de 2022, quando estava de férias, surgiu a oportunidade de jogar num clube da primeira liga das Ilhas Faroé, na qual Carlos Ferreira “não hesitou”, pois o seu sonho sempre foi “jogar numa primeira liga, seja em que país for”. Quando estava à espera para assinar o contrato, o clube da primeira liga das Ilhas Faroé informou, no dia 31 de janeiro de 2023, que “não tinha orçamento”, o que deitou por terra um dos sonhos do atleta.
“No dia 31 de janeiro, não podia voltar para Portugal nem para o resto da Europa, porque o mercado fechava nesse dia e só podia ficar nas Ilhas Faroé ou num país nórdico”, afirmou. O jogador português arriscava-se a ficar sem jogar o resto da temporada, mas, como o empresário tinha jogado pelas Ilhas Faroé, conseguiu ajudar o avançado lousadense. O Skála deu apenas três dias a Carlos Ferreira para este “mostrar o que valia” ou então estaria na porta de saída. Nesses três dias, o atleta conseguiu impressionar e o clube contratou-o.
“Não sabia se eles eram candidatos à subida ou se lutavam para a manutenção, mas dei tudo na mesma e, a partir daí, foi sempre a melhorar”, completou. Atualmente o Skála ocupa o primeiro lugar da segunda divisão das Ilhas Faroé e está muito perto de garantir a subida ao primeiro escalão.
O jogador confessou que a adaptação à língua inglesa foi difícil, principalmente nas Ilhas Faroé, porque “não tinha nenhum jogador português”, enquanto que na Finlândia já havia jogadores que falavam português. O frio que se faz sentir nas Ilhas Faroé é de difícil adaptação. “No meu primeiro treino vim de calções e uma camisola normal e passei frio, porque estava sempre em casa e não tinha noção das temperaturas aqui, que às vezes chegam aos 10 graus negativos. Fui ao treino e eles estavam todos de calças, gorro e quispo e eu era o único que estava assim”, contou o jogador.
“Estávamos no treino a fazer um jogo de 10 para 10 e estava uma baliza no meio-campo. Com o vento que estava a baliza tomba para trás e eu pensei que com o tempo que estava era impossível o treino continuar. A baliza estava a cair por cima do guarda-redes e o que eles fizeram foi segurar os dois postes, o treinador de guarda-redes de um lado e o treinador-adjunto do outro e o treino prosseguiu”, completou.
Além de sonhar em jogar na primeira liga, o jogador tem como objetivo “chegar às competições europeias, nem que seja a um play-off de acesso. Além disso, Carlos Ferreira pretende continuar ligado ao futebol como treinador principal ou adjunto depois de terminar a carreira. Neste momento, é treinador de um dos escalões do Skála, clube onde joga. “Tenho ganho aquele carinho especial de querer ajudar, tenho que aprender mais sobre futebol e estamos sempre a aprender”, referiu o lousadense.
Relativamente ao futuro, o atleta pretende “continuar a carreira no estrangeiro” e só pensa voltar para Portugal “para terminar a carreira no Lousada”, que é o seu “clube do coração”. Carlos afirmou que um jogador de futebol deve fazer muitos sacrifícios e deixar muita coisa para trás, como a família, as festas, a noite. E deixou a indicação de que há sempre tempo para tudo e nunca se pode deixar de trabalhar. “Fui sempre acreditando, continuando a trabalhar e nunca desisti e foi isso que me trouxe onde estou hoje”, frisou o jogador de 25 anos.
Por fim, Carlos Ferreira mencionou que o pai foi das principais pessoas que o apoiou sempre, além do seu avô que o acompanhava para todo o lado na formação. “Sou muito ligado à minha família e agradeço muito a eles”, concluiu o jogador natural de Silvares.