12 novembro 2025, 11:50
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    Entre o orçamento e a sobrevivência: famílias do Vale do Sousa conseguem poupar?

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    O Vale do Sousa, uma das regiões mais emblemáticas do norte de Portugal, tem vindo a enfrentar, nos últimos anos, dificuldades económicas que afetam muitas famílias. Com a crescente subida do custo de vida e a instabilidade económica global, a questão que se coloca é se as famílias da região estão a conseguir poupar ou se estão a ser forçadas a ajustar os seus orçamentos para sobreviver.

    Esta é uma área que inclui Lousada, Penafiel, Castelo de Paiva, Paços de Ferreira, Paredes e Felgueiras. Tradicionalmente, a região tem uma forte ligação à indústria, especialmente ao setor têxtil, ao mobiliário e à metalomecânica. No entanto, muitos desses setores têm enfrentado desafios significativos nos últimos anos devido à concorrência externa e à transição para uma economia mais digitalizada.

    Com uma taxa de desemprego que, embora tenha diminuído ao longo dos anos, ainda afeta muitas famílias, especialmente nas zonas rurais, os rendimentos das famílias não são tão altos como nas grandes áreas urbanas. A inflação e o aumento de preços, especialmente em setores essenciais como a alimentação, habitação e combustíveis, têm colocado uma pressão considerável sobre o orçamento familiar.

    Num inquérito informal realizado com várias famílias da região, muitos afirmaram que têm tido dificuldades em poupar devido ao aumento do custo de vida. Maria João, residente em Lousada e mãe de dois filhos, explicou ao Terras do Vale do Sousa (TVS) que, apesar de trabalhar a tempo integral como operária fabril, “as contas no final do mês estão sempre apertadas. O preço da comida aumentou muito, e os custos com os transportes também não param de subir. Não há espaço para fazer poupanças”.

    Outro exemplo é Carlos Ramalde, de Paços de Ferreira, que trabalha na indústria de móveis. Este relatou que, apesar de ser um bom ano para a empresa, a inflação tem consumido qualquer capacidade de poupança. “Pago a renda, os impostos, as contas da casa e depois não sobra muito. E com filhos em idade escolar, os custos extras com educação também são um peso.”

    A falta de cultura de poupança

    Muitas famílias do Vale do Sousa, como em várias outras regiões do país, não possuem uma cultura de poupança enraizada, e isso torna-se ainda mais difícil quando o dinheiro parece não alcançar para o essencial. O especialista em finanças pessoais, Luís Sousa, comenta que “a falta de literacia financeira é um problema significativo em muitas famílias portuguesas. Sem um planeamento adequado, fica muito difícil conseguir fazer frente às despesas inesperadas e, consequentemente, poupar”.

    Para muitos, poupar passa a ser uma necessidade apenas quando surge um imprevisto, como uma emergência de saúde ou um reparo inesperado no carro. A falta de uma gestão rigorosa do orçamento diário torna-se uma barreira para a acumulação de poupanças no longo prazo.

    Embora as autoridades municipais tentem implementar medidas de apoio, como programas de educação financeira e incentivos à poupança, a verdade é que o impacto imediato destas ações ainda é reduzido. As autarquias têm desenvolvido algumas iniciativas para apoiar as famílias em dificuldades, como o apoio ao arrendamento e a distribuição de cabazes alimentares para as famílias mais carenciadas. No entanto, o verdadeiro desafio permanece na criação de uma mentalidade de poupança a longo prazo e no aumento da capacidade de rendimento das famílias da região.

    Por outro lado, a transformação digital e o desenvolvimento do e-commerce têm oferecido novas oportunidades para as famílias da região. Com a pandemia, muitas empresas do Vale do Sousa conseguiram modernizar-se e começar a vender os seus produtos online, o que permitiu gerar novas fontes de rendimento. No entanto, mesmo essas inovações não são suficientes para compensar os aumentos no custo de vida.

    O que esperam os cidadãos para 2025

    João Campos, 42 anos, trabalhador na indústria têxtil em Lousada

    “Para 2025, o que eu mais espero é uma melhoria nas condições de trabalho e, claro, um aumento nos salários. O que ganho hoje não chega para cobrir as despesas do mês, e a inflação tem sido uma verdadeira dor de cabeça. A minha esperança é que as empresas comecem a valorizar mais os seus trabalhadores, porque sem nós a roda não gira. Acredito que a região do Vale do Sousa tem um grande potencial, especialmente se conseguirmos investir mais na inovação e na digitalização. Se houver mais oportunidades para quem trabalha no terreno, talvez seja possível ver uma mudança nas nossas condições de vida. Não peço milagres, mas um pouco mais de estabilidade e crescimento seria muito bem-vindo.”

    Ana Almeida, 38 anos, doméstica em Penafiel

    “Em 2025, o meu maior desejo é poder finalmente respirar sem o peso constante das contas. Com dois filhos em casa, as despesas nunca param de aumentar e sinto que, por mais que me esforce, nunca consigo poupar nada. Espero que a economia melhore e que as famílias como a minha possam ter acesso a ajudas mais eficazes, especialmente em áreas como a educação e a saúde. Além disso, a estabilidade no emprego do meu marido é algo que me preocupa, porque, se ele não conseguir um trabalho mais seguro, vai ser ainda mais difícil manter as contas equilibradas. Se o governo e as empresas fizessem mais para apoiar as famílias em situações como a nossa, talvez a gente conseguisse ver um futuro mais tranquilo e com mais esperança.”

    O futuro da poupança no Vale do Sousa

    É possível concluir que as dificuldades de poupança nas famílias do Vale do Sousa são uma realidade cada vez mais evidente. O aumento do custo de vida e a falta de uma cultura de poupança são desafios prementes, mas que podem ser enfrentados com maior educação financeira, políticas públicas eficazes e, sobretudo, com uma maior estabilidade económica para os cidadãos. Até lá, muitas famílias continuarão a ter dificuldades em equilibrar o orçamento familiar e em garantir uma poupança significativa para o futuro.

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