José Ribeiro da Mota, mais conhecido por padre Mota, é natural de Lousada e, atualmente, pároco das freguesias de Casais, Figueiras, Nevogilde e Ordem. Apesar da “gema lousadense” é em Rio Tinto que começa o caminho sacerdotal, onde fica depois de fazer o estágio. Mais tarde, “renova a ligação” ao Vale do Sousa, quando lhe é pedido para se mudar para Castelo de Paiva, concelho onde esteve durante 27 anos.
Em Lousada, está há 21 anos e, no passado sábado, 8 de julho, comemorou as Bodas de Ouro Sacerdotais. Para assinalarem a data, os paroquianos das quatro freguesias lousadenses, decidiram organizar uma cerimónia e um jantar de homenagem ao padre Mota. A celebração decorreu no cenáculo de Nevogilde e contou com centenas de pessoas, entre elas, o presidente da Câmara de Lousada, Pedro Machado, e o Bispo Emérito da Diocese do Porto, D. António Taipa. O jantar convívio aconteceu na Quinta da Tapada, em Casais.
E, se para os paroquianos foi um dia de muita animação e emoção, para o padre Mota 50 anos não merecem “tanta festa”.
“Eu não valorizo muito estas linguagens de festas, para mim o que conta é o dia a dia e a amizade das pessoas. Por mim não se tinha feito nada, era mais um dia. Claro que daria graças a Deus, como dou por estes 50 anos. Contudo, agora começo a ter mais dificuldades porque a idade não perdoa, de qualquer modo sinto que, ao longo destes 50 anos, as paróquias onde eu estive ficaram encantadas comigo. Aqui, não sei a impressão que as pessoas têm de mim, mas acho que não têm queixa”, admite o padre Mota.
Dos 50 anos de sacerdócio, o pároco recorda os momentos iniciais “com pujança”, como refere, nas freguesias de Pedorido, Raiva e Lomba, no concelho de Castelo de Paiva, onde começou o percurso e, depois, onde recomeçou em Nevogilde.
“Quando vim para cá esta freguesia era uma vergonha, a igreja era uma vergonha, mal apresentada, tudo velho, não tinha jeito nenhum. Havia um casoto velho encostado e um prolongamento que ia ter com o salão, que estava fechado e em tijolo. Isto não tinha ponta por onde se lhe pegasse, compreende-se porque o senhor padre era muito idoso e para tudo é preciso arranjar dinheiro, o que é certo é que eu cheguei e já tinha fama de muitas obras nas paróquias anteriores, por isso, comecei a impulsionar algumas construções nas freguesias de cá. Atualmente, é muito mais difícil arranjar verbas”.
Conhecido como o “padre empreiteiro”, o padre Mota foi responsável por várias obras nas freguesias, que são da própria responsabilidade, no concelho de Lousada. Por exemplo, na freguesia de Casais, na capela do Senhor do Calvário, que já existia, o pároco lousadense assume que “com as obras que realizámos, a capela tornou-se num dos locais religiosos mais lindos do concelho. Em Nevogilde, a grande transformação foi a construção do cenáculo”, explica.
Para além de todas as construções pelas quais é impulsionador, o padre Mota é também “símbolo de muita amizade e companheirismo”, segundo os paroquianos das várias freguesias. Mesmo que, segundo o pároco, as mudanças na religião “não sejam positivas”.
“Nos últimos anos e ultimamente, as coisas pioraram. Há mais distanciamento e menos valores espirituais. As pessoas estão mais materialistas e a dimensão espiritual está diminuída” opina o Padre Mota, que justifica “há um certo afastamento e também uma presença dos pais na educação dos filhos mais difícil e problemática. Os pais poderiam e deviam influenciar positivamente, contudo, na minha opinião, penso que não incutem a dimensão espiritual da vida. E, por isso, não podemos exigir a uma criança que não teve uma referência positiva e espiritual”.
Apesar da “opinião menos positiva”, o pároco lousadense acredita que a Jornada Mundial da Juventude e o tempo de preparação que se vive podem ajudar os jovens e a aproximação à religião.
“Este trabalho é tempo de semear, encantar e promover. Contudo, as consequências só as iremos ver depois. Para já, o que se tem visto em relação aos jovens é muito bom”. “Boa” é também a opinião que o padre Mota tem do concelho ao qual pertence. “O concelho de Lousada tem história, uma história com muitos valores de trabalho, de honestidade e de gente aguerrida e entusiasmada por mover a sua terra. Lousada é um concelho com história de dedicação e de vivência da fé, entretanto houve um certo esmorecimento que precisa de ser revitalizado porque os valores espirituais são importantes, necessários e imprescindíveis para o ser humano. A valorização da fé não deve aparecer só quando há acidentes ou então quando acontecem doenças ou mortes, a ligação com Deus deve ser permanente e deve levar a uma atitude permanente de ação de graças pela vida que Nos concede”, concluiu o padre Mota.
A queda da ponte de Entre-os-Rios
Padre Mota era o pároco da freguesia da Raiva, em Entre-os-Rios, de onde eram a maior parte das vítimas da queda da ponte Hintze Ribeiro. Um desastre ocorrido na noite de 4 de março de 2001 e que vitimou 59 pessoas.
O pároco recorda os momentos vividos na época.
“Eu passei pelo autocarro nesse dia de manhã e cumprimentei-os, longe de imaginar que era uma despedida. Eu ia dar uma missa e eles estavam a partir para o passeio. À noite, estava em casa, quando comecei a notar movimentações esquisitas na estrada, passado pouco tempo, vi na televisão que um autocarro tinha caído na ponte. Nessa noite, já não dormi bem, mas não percebi bem o que se passava. De manhã, quando soube o que verdadeiramente se tinha passado e começo a saber os nomes das pessoas, nem queria acreditar que os conhecia a todos. Comecei a lembrar-me do rosto de alguns deles, que tinham estado na missa (no sábado). Custou muito e foi muito triste. Foram momentos muitos pesados. Eu tinha de ser forte porque era em mim que procuravam ajuda. As famílias procuravam-me para desabafar, não tenho memória de revoltas, apenas de gente amargurada. Como ainda hoje há. Há uma pessoa ou outra que é mais difícil de encontrar palavras para lhes dar. Houve uma família da qual partiram nove pessoas e, nem todos, apareceram. Eram dias difíceis com funerais recorrentemente. Foi um momento que me marcou para sempre, eram meus amigos também, alguns eram do grupo coral e outros participavam na vida da paróquia, portanto, encontrava-me com eles regularmente e vivíamos num relacionamento maravilhoso”.
Pedro Machado, presidente da Câmara Municipal de Lousada
“Este é um dia importante para Lousada porque temos mais um pároco que faz 50 anos de ordenação, o que por si é sempre sinal de regozijo. E, por outro lado, porque se trata de um padre lousadense, o que significa uma alegria redobrada. Esta celebração não fica marcada pela data em si, mas por tudo o significa, pela causa que ele abraçou e pela dedicação que sempre teve em todas as comunidades por onde passou. Para nós é um orgulho que, depois do padre Mota ter andado por Portugal fora, tenha regressado ao concelho e consiga dar conta do recado com muito brio e dedicação. Na Câmara brincávamos com ele e dizíamos que era o ‘padre empreiteiro’ porque, assim que acaba uma obra, estava sempre a pensar na próxima. Realmente tem o gosto pessoal de honrar o legado que nos foi deixado em termos de património.”
Joaquim Magalhães, presidente da junta de freguesia de Nevogilde
“O sr. padre Mota está de parabéns pelos 50 anos de sacerdócio. Tem uma importância extrema em todas as comunidades que acompanha. É uma pessoa muito presente e muito próxima e penso que, toda a gente, está muito satisfeita com ele. É um orgulho e um agrado que a celebração dos 50 anos de ordenação do padre Mota seja feita aqui, em Nevogilde”.
Margarida Mendes, representante dos paroquianos de Casais
“Este dia tem muita importância para mim, porque gosto muito do padre Mota, já que trabalho com ele há muitos anos. Faço parte do coro e aprendi muito com ele. O padre Mota trouxe muitas coisas boas e muitos ensinamentos a estas comunidades. Esta celebração é dos 50 anos de sacerdócio do nosso pároco e 20 deles foram passados connosco, entre muitas festas e convívios. Somos muito felizes com o sr. padre Mota”.
Micael Ribeiro, representante dos paroquianos de Figueiras
“O dia de hoje, e destes 50 anos, resumem-se nas centenas de pessoas que estão a chegar, dos mais diversos grupos do clero da vigararia e também de outras paróquias, onde o padre Mota deixou marcas e vivenciou momentos que o marcaram para todo o sempre. O padre Mota está sempre disponível para nós, paroquianos, demonstra-nos uma entrega total e faz sempre parte da solução e não do problema. Estar aqui é um orgulho, para mim e para muitos outros, que aguardámos este dia com emoção. Pessoalmente, defino o sr. padre Mota como um bom pastor, um bom conselheiro e um ótimo professor. Ao longo de todos estes anos vivemos momentos únicos que me marcarão para sempre.”
Felisbina Pereira, representante dos paroquianos de Nevogilde
“Deixo ao sr. padre Mota, essencialmente, uma palavra de gratidão, pelo exemplo de fé e pela referência que é na vida de cada um de nós. Com a sua força e a sua fé consegue fazer-nos acreditar que o amanhã está sempre mais à frente. O padre Mota é lousadense de gema e foi criando laços com todos nós e estreitando os que já existiam de berço. Esta cerimónia representa todo o afeto e gratidão que as paróquias de Nevogilde, Ordem, Figueiras e Casais têm para com o seu pároco”.
Carlos Pinto, representante dos paroquianos da Ordem
“No dia de hoje, estou comovido com o rosto das pessoas, com a amabilidade e a generosidade de todos aqui presentes. É emocionante ver como as pessoas estão contentes, por terem um pároco que está constantemente ao serviço das paróquias. Não há palavras para descrever este dia. Desde a primeira reunião que fizemos para programar a celebração dos 50 anos de sacerdócio do padre Mota, que existiu uma adesão impressionante. Quero agradecer do fundo do coração a todas as pessoas que se disponibilizaram e que vieram cá durante tantos dias para proporcionar esta celebração”.