Diana Rocha, tem 29 anos, e é natural da freguesia de Frazão, em Paços de Ferreira. Entrou como profissional de enfermagem no Hospital Padre Américo a 28 de novembro de 2022 “à luz de um concurso urgente, assinando um contrato de 6 meses sem possibilidade de renovação. O próprio contrato dizia-nos isto mesmo. Ninguém nos escondeu. Aceitei sabendo o que estava a assinar. Mas fui na esperança de dar um upgrade nas minhas habilitações e possivelmente abrir mais portas ao meu futuro profissional. Supostamente seria para assegurar o pico de inverno, seríamos a equipa de contingência. Contudo, ao longo dos meses, fomos verificando que esse mesmo ‘pico de inverno’ efetivamente nunca termina”, explicou a jovem.
Ainda assim, a 6 de junho e, depois de decisão da Direção Regional do Porto, a jovem de 29 anos teve mesmo de abandonar o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa com o despedimento, juntamente com mais 30 colegas.
Uma situação bastante difícil de explicar. “Ainda com a nossa presença lá os doentes acumulavam e todos nós tínhamos sempre horas extras mensais o que demonstra que, findo o nosso contrato, quem vai arcar com todas essas horas extras são os colegas que lá ficam o que vai causar prejuízo a vários níveis, quer pessoais pelo desgaste físico e psicológico dos colegas, quer pela precariedade de cuidados que são prestados aos doentes porque não há profissionais suficientes para prestar cuidados a tantos doentes”. Mas as dificuldades não ficam por aqui. “Sabemos ainda que, nas medicinas, tiveram de reduzir aos rácios por turno de profissionais (menos 1 enfermeiro em cada turno). Se antes um enfermeiro ficava com cerca de 9 doentes por turno, o que por si só já não seria o ideal, atualmente fica com 13/14 doentes”.
Para além da deficiência nos cuidados, já houve cirurgias canceladas no hospital desde a saída destes profissionais.
“Dada a dificuldade no acompanhamento dos doentes alocados às medicinas e urgências, por falta de profissionais, foram canceladas todas as cirurgias programadas não urgentes, de 1 de junho, até, pelo menos, ao dia 7 de junho”, revela a jovem enfermeira.
Os 31 enfermeiros foram despedidos no dia 27 de maio, apesar da importância para o serviço.


“Ao longo dos meses ouvimos dezenas de vezes para não nos preocuparmos porque era evidente a necessidade de profissionais no hospital e que havia de facto muita esperança de todos em ficarmos. Havia lugar para todos e nem assim todas as necessidades ficariam suprimidas. Fomos sabendo pela administração que estariam a tentar aprovação do governo, nomeadamente, o Ministério da Saúde e das Finanças para a nossa recontratação”. Contudo e, apesar da necessidade, o Ministério das Finanças não aprovou o orçamento necessário para a continuidade destes profissionais. Desde então, há relatos de horas extraordinárias que estão exigidas aos profissionais que ficaram no serviço e de doentes internados nos corredores.
“As horas extras por profissional são uma realidade assustadora e em número absurdamente elevado. Note-se que em maio, enquanto nós ainda estávamos em funções no hospital, as horas extras chegaram a atingir cerca de 3500h nos serviços de urgência e medicina. Com a saída de cerca de 31 profissionais, com horários completos, pode-se imaginar quantas horas vão sobrar para os colegas que lá ficam a trabalhar. Estes números falam por si e demonstram que a nossa presença é um desfalque relevante ao hospital. Aliás contas muito simples demonstram que com estas horas extras daria para contratar cerca de 20-25 enfermeiros a tempo inteiro”, conta.
Diana Rocha assume que “tem sido viver um dia de cada vez indo à luta porque esta profissão já me mostrou que será um constante desafio toda a minha vida”, mas assume “é no olhar para a minha filha de 2 anos que o aperto no coração surge mais forte pois ficar desempregada nesta altura, com uma crise económica tão grande é um sufoco, uma frustração e tristeza constantes. É viver na incerteza. Tenho direito a subsídio de desemprego, mas o mesmo não me paga as contas e eu preciso e quero trabalhar”.
Para o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), o despedimento deste grupo de profissionais irá colocar em causa a “qualidade dos cuidados prestados por diminuição dos rácios de enfermeiros por turno; o aumento da dificuldade do gozo de direitos de outros enfermeiros; e o aumento exponencial de recurso ao trabalho extraordinário”, pode ler-se na publicação do Facebook do SEP. A solução passa por “vincular todos estes enfermeiros. Defender o Sistema Nacional de Saúde (SNS) faz-se com ações concretas como esta”, pode ler-se ainda.
Na sexta-feira, dia 6 de junho, depois da decisão da Direção Regional do Porto, o grupo de enfermeiros decidiu unir-se e concentrou-se em frente ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, em Penafiel.